A busca pelo aumento da produtividade e da lucratividade na pecuária de corte passa por uma série de fatores, pesquisas e experimentos que são constantemente divulgados mostrando o impacto da genética, dos manejos sanitários, da eficiência no pastoreio e, principalmente, dentre outros fatores, da dieta, no aumento da produtividade.
Todavia, as ações e melhorias buscadas nas dietas são quase sempre voltadas a fontes de volumosos e concentrados, porém, um fator determinante para o bom desempenho dos animais é a água. Entender o efeito e a importância de oferecer água em abundância e qualidade aos animais é fundamental.
Apesar de parecer simples e básico, cenas como a mostrada na FIGURA 1, são ainda muito comuns e corriqueiras no Brasil. Não apenas em criações extensivas de gado a pasto, mas também em confinamentos. Encontramos com frequência fontes de água totalmente inadequadas ao consumo.
Figura 1 – Foto ilustrando as más condições de água em propriedade de bovinos de corte a pasto

Fonte: Arquivo pessoal Vinicius Costa, trainee da Equipe Corte do Rehagro.

Fonte: Arquivo pessoal de Dra. Andrea Mobiglia, coordenadora de ensino da pecuária de corte e consultora do Rehagro.

Figura 2- Foto de bebedouro em confinamento com má qualidade de água devido a falta de limpeza.

A variedade das fontes de água encontradas nas fazendas de gado de corte é muito alta, desde açudes e cacimbas, rios e lagoas naturais a estruturas de bebedouro bem dimensionadas com a manutenção em dia. Podendo ainda ser observadas em diversas fontes dentro da mesma propriedade.

Água e a sanidade do rebanho

O primeiro ponto, que devemos chamar a atenção, em relação a qualidade da água, está relacionado aos impactos diretos da qualidade da água na saúde dos animais. Fontes de água contaminadas, principalmente em açudes, cacimbas ou mesmo em bebedores sem manutenção e que contém água provinda de fontes não adequadas, representam sérios riscos à saúde dos animais, e consequentemente impacto negativo na produção.
Diarreia, eimeriose, leptospirose, botulismo, verminoses são algumas das doenças que podem afetar diretamente a saúde do animal. Doenças como o botulismo podem causar grandes prejuízos, levando ao um surto e morte de muitos animais de maneira instantânea em uma propriedade. Doença como a leptospirose pode causar prejuízos incalculáveis durante uma estação de monta, aumentando abortos e reduzindo a taxa de prenhez.
Pensando ainda em prejuízos diretos à saúde dos animais, os bezerros também são diretamente impactados, início de suas vidas, ao contrário do que muitos pensam, a disponibilidade de uma fonte de água de qualidade é fundamental para o desenvolvimento dos bezerros. Casos de diarreia não são incomuns em fazenda que o acesso dos bezerros à água está muito aquém do desejável, aumentando a mortalidade dessa categoria.
Dependendo da temperatura e da dieta utilizada, um bovino consome em média 5 litros de água, por quilo de matérias seca (MS) ingerida, frequentando em média a fonte de água quatro vezes ao dia em sistema de pastejo.

Água e o impacto no desempenho

Além dos impactos já supracitados, que influenciam direta e imediatamente a saúde dos animais, um ponto se destaca e requer bastante atenção é o desempenho dos animais. Citamos que o consumo de matéria seca é diretamente proporcional ao consumo de água pelos animais. Limitações ao acesso da água, como barreiras físicas, estreitamento dos trilheiros na chegada às fontes de água, baixa disponibilidade de água e principalmente, água de má qualidade, irão impactar diretamente no consumo de MS pelos animais.
Figura 3 – Foto de confinamento ilustrando a dificuldade de acesso dos animais no bebedouro devido abertura de buracos no solo ocasionados pela falta de planejamento para a limpeza de bebedouro, onde a água escorria dentro da baia.

Fonte: Arquivo pessoal de Dra. Andrea Mobiglia, coordenadora de ensino da pecuária de corte e consultora do Rehagro.

Estudo realizado por Willms et al. (2002) mostrou que houve redução do consumo de MS e ingestão de água a medida que a água era “propositadamente” contaminada com fezes. Um cenário não incomum em fazenda, o que neste estudo resultou em resolução de aproximadamente 12,5% no consumo MS, como ilustrado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Ingestão de água e matéria seca de bovinos a medida que a fonte de água era contaminada com fezes.

Fonte: Adaptado de Willms et al., 2002.

Diminuir consumo de matéria seca, por esse motivo, é sinônimo de menores desempenhos, BICA et al., 2006, mostraram em seus estudos que bovinos de corte com acesso a água de fonte artificial, bebedouro, apresentaram desempenhos de 0,105Kg ou 29% superiores aos animais que consumiam água de açudes.
Portanto, a água é o primeiro e o mais barato ingrediente da dieta de um ruminante, o cuidado e a preservação desse recurso, a disponibilidade de águas de boa qualidade podem determinar o sucesso da atividade.

Capacidade

Em confinamento a métrica se mantém, ou até mesmo se acentua, confinamentos, são na prática locais com maiores densidades de animais por m², consumo de água é maior devido às características das dietas, e o acesso ao bebedouro é observado constantemente por vários animais ao mesmo tempo, implicando em uma característica muito importante das recomendações do bebedouro.
É importante que esses sejam de alta vazão, ou seja, que tenham grande capacidade e velocidade de enchimento.
Figura 4 – Projeto de bebedouro pequeno mas de alta vazão.

Fonte: Arquivo pessoal Cristiano Rossoni, consultor do Rehagro.

A utilização de bebedouros artificiais, foi um grande avanço e é uma grande necessidade ainda em muitas propriedades, em grandes piquetes, ou mesmo em confinamentos, grandes estruturas de bebedouros foram instalados com intuito de armazenar muita água, que fosse capaz de suprir as necessidades de todos os animais de um lote, porém essas estruturas com grandes capacidades de armazenamento, apresentam uma maior dificuldade de manutenção, é em tese mais difícil se limpar um bebedouro, uma caixa d’água com grandes volumes do que um bebedouro pequeno.

Figura 5 – Bebedouro com vazão insuficiente, enchimento lento.

Fonte: Arquivo pessoal Cristiano Rossoni, consultor do Rehagro

Se podemos observar vantagens em grandes estruturas para armazenar água para os bovinos, está justamente relacionado à diminuição de riscos de falta desse insumo tão importante, uma grande estrutura tem capacidade para garantir água aos animais por 2, 3 ou mais dias, mesmo se algum problema ocorra com a distribuição da água.
Um ponto de atenção importante, quando pensamos em bebedouros menores, é a capacidade dessa estrutura em atender uma grande demanda por parte dos animais em um curto espaço de tempo. Daí então, passou-se a dar mais atenção a vazão dos bebedouros, estrutura menores, com grande capacidade de enchimento. São mais práticos, fáceis de limpar e podem atender, perfeitamente, a todos os animais.
Ainda em relação ao dimensionamento, quando falamos em tamanho de bebedouro, uma métrica utilizada são 2cm lineares por cabeça, mas insistimos que mais importante do que o tamanho do bebedouro, e sempre relacionado ao sistema de produção, é importante avaliar a vazão do mesmo.

Manutenção e Limpeza

Independente da capacidade e da vazão do bebedouro um ponto é indispensável em qualquer sistema de produção, a manutenção e limpeza dos bebedouros.
Principalmente quando pensamos em sistemas mais intensivos, como confinamentos, a frequência de manutenção e limpeza dos bebedouros requer atenção, e deve ser realizada NO MÍNIMO duas vezes por semana.
Dicas para limpeza:
Retire a água do bebedouro, deixando apenas um fundo.
Esfregue toda a superfície do bebedouro, incluindo paredes e fundo, com uma escova ou vassoura rígida. Caso necessário, utilize auxílio de produtos químicos para a limpeza, lembre caprichar no enxágue.)
Acabe de retirar a água e esfregar o fundo removendo toda sujeira, lodo e matéria orgânica;
Enxágue o bebedouro.
Deixe encher novamente.
Algumas plantas e estruturas de confinamento, fazem avaliação e limpeza das fontes de água, diariamente.
Alternativas podem ser utilizadas como auxílio à limpeza, no intuito de manter a água sempre em bom estado. A utilização de cloro e plantas aquáticas, por exemplo, também podem ser utilizadas e irão retardar o processo de sujeira da água, entretanto a limpeza, a lavagem do bebedouro é indispensável. Cuidado com fonte alternativas, como criar peixes, essas culturas eliminam resíduos na água que afetam o desempenho de bovinos. Portanto, a maneira mais adequada e barata é manter uma rotina de limpeza na fazenda.

Custo de instalação

Um ponto de bastante indagação, principalmente por parte dos produtores, está relacionado ao custo de instalação dos bebedouros. Esse custo está associado à algumas particularidades, como distância do bebedouro à fonte de água e da quantidade de piquetes na fazenda por exemplo. A quantidade de tubulação e mão de obra impactam nesse custo, além da própria estrutura.
Independente de maiores ou menores custos, a qualidade da água obtida em bebedouros artificiais, representa benefícios suficientes que justificam o investimento na infraestrutura.

Manejo das Pastagens

A instalação de bebedouros, representa um benefício pouco comentado. Bovinos em pastejo preferem andar não mais de 200 metros de distância da água para pastejarem. Só o fazem quando consomem 50% da forragem disponível naquele raio e relutam a andar mais do que 600m de distância da água. Apenas andarão distâncias superiores a essa, quando consumirem mais do que 40 a 50% da forragem disponível. Esse comportamento dos animais, quando a distância não está adequada, resulta em superpastejo em algumas áreas do piquete e subpastejo em outras, o que impacta diretamente no desempenho do animal. Além disso, ainda abre oportunidade de plantas invasoras em áreas mais prejudicadas pelo mau manejo do pastejo.
A localização adequada do bebedouro, tem potencial para maximizar a utilização dos piquetes, ressalvadas devidas proporções de possibilidades, pode ser uma grande opção.

Análise da água

Tomadas todas as providências de limpeza, manutenção e avaliação da capacidade de fornecimento, um passo importante é a realização periódica de análises da água fornecida aos animais. Avaliação de fatores como acidez, alcalinidade, presença de sulfetos de hidrogênio, sulfatos de ferro e manganês, conteúdos sólidos totais dissolvidos, bactérias (coliformes fecais por exemplo) e população de algas devem ser realizadas, permitindo assim, controle e ações de melhoria na qualidade da água ofertada, respeitando as normativas e portarias do RIISPOA.

Enfim, bovinos de corte podem beber mais de 50 litros de água por dia, fornecer água de qualidade e em abundância, não somente mitiga problemas sanitários dentro da propriedade, mas principalmente potencializa desempenho e maximiza resultados.
Referências
• BICA, G. S.; et al. Comportamento e desempenho de bovinos de corte supridos com açude ou bebedouro. 43° Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 24 a 27 Julho 2006, João Pessoa PB. (Link)
• WILLMS, Walter D. et al. Effects of water quality on cattle performance. Rangeland Ecology & Management/Journal of Range Management Archives, v. 55, n. 5, p. 452-460, 2002. (Link)

Contate A gente

Envie uma mensagem

FUNCIONAMENTO

Segunda a Sexta: 08:00 as 12:00 / 14:00 as 18:00
Sábados: 08:00 as 12:00
Domingos - Fechado

Nosso telefone

Vendas : (67) 3562-3860
SAC : (67) 3562-3860
comercial@salcerrado.com.br

Envie uma mensagem

Responderemos o mais breve possível




    • Teste
    • Teste